Danilo R. Vieira | Oceanógrafo

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Relatório do Trabalho de Campo: Rodovia Castelo Branco (SP-280) — 14 de abril de 2007

Relatório elaborado pelos alunos Danilo Rodrigues Vieira, Felipe van Enck Meira, Luís Fabiano Baldasso, Marcelo Ubarana e Renan Kuwana em 2007 como parte da disciplina GSA 0621 – Princípios de Geologia Sedimentar, ministrada no Instituto de Geologia da Universidade de São Paulo.

1. Introdução

Durante o processo de aprendizado da disciplina de geologia sedimentar, faz-se necessário reconhecer as estruturas das unidades litoestratigráficas bem como a descrição e interpretação da fácies sedimentares na prática da observação das rochas.

A cidade de São Paulo localiza-se próxima a bacia sedimentar do Paraná, onde existem afloramentos de algumas formações importantes, que são expostos pelo homem para construção de rodovias, como a rodovia Castelo Branco (SP-280) onde ocorreu a viagem tema deste relatório. Nesta rodovia, estão expostas as seguintes estruturas e fácies da bacia do Paraná: formação Itararé, Serra alta, Pirambóia, Botucatu e Serra Geral.

A viagem foi composta de 7 pontos, sendo que a localização dos pontos encontra-se na Figura 1.1.

[Fig. 1]
Figura 1.1: localização dos pontos 2 e 7 da viagem.

2. Objetivo

A viagem de campo teve como objetivo aplicar os conhecimentos adquiridos em sala de aula fazendo a análise de fácies sedimentares e, através da análise, formular hipóteses sobre os prováveis sistemas deposicionais que atuaram nos locais visitados.

3. Descrições e interpretações

Analisando o perfil geológico do estado de São Paulo, percebe-se que a capital encontra-se em um planalto—o Planalto Atlântico—constituído principalmente por rochas cristalinas. À medida que se desloca para oeste, a topografia torna-se mais plana e baixa em relação ao planalto—trata-se da Depressão Periférica, uma bacia sedimentar cujas camadas de rochas sedimentares contidas refletem os diferentes ambientes deposicionais que existiram ao longo do tempo. A Depressão Periférica é delimitada por um segundo planalto, constituído por rochas basálticas—o Planalto Ocidental. O foco da análise foi a Depressão Periférica.

Ponto 1 – km 68

Este ponto encontra-se exatamente na divisa das rochas metamórficas do primeiro planalto (formação Aquidauana) e o início da depressão periférica (formação Itararé). Observamos, portanto, a presença de areia fina em varias estratificações com lentes de pelito sobre uma faixa de conglomerado cortando o terreno ascendente leste.

[Fig. 2]
Figura 3.1: laminações plano-paralelas de arenito—Formação Itararé.

Observamos neste ponto a transição de muitas fácies de areia fina com granocrescência ascendente. As fácies observadas são as seguintes (do topo para baixo):

[Fig. 3]
Figura 3.2: laminações plano-paralelas de arenito—Formação Itararé.

As fácies encontram-se esquematizadas na Figura 3.3.

[Fig. 4]
Figura 3.3: esquema das fácies observadas no ponto 1.

Observamos, neste ponto, fácies relacionadas a processos gravitacionais, processos de fluxo direcional, processos trativos e processo de suspensão/decantação.

Este ponto é o inicio da formação Itararé.

Ponto 2 – km 161,5

O local apresenta depósitos sedimentares correspondentes à Formação Serra Alta (Permiano Superior). Observou-se a presença de duas fácies, depositadas por laminação plano-paralela: uma de folhelho com uma coloração acinzentada, contendo fragmentos fossilíferos; e outra de siltito com uma coloração amarelo-escuro, onde não se observou a presença de fósseis. Assim como os argilitos, os folhelhos são rochas sedimentares compostas por grãos de argila. Os argilitos, no entanto, apresentam aspecto maciço, enquanto que os folhelhos constituem-se de lâminas finas e paralelas [4]. As fácies encontravam-se intercaladas, havendo uma nítida predominância nos depósitos de folhelhos.

[Fig. 5]
Figura 3.4: nódulo de arenito—Formação Itararé.

As evidências sugerem um ambiente deposicional aquático, sem fluxo na maior parte do tempo (fundo oceânico, por exemplo). Isto se sustenta pela deposição do tipo laminação plano-paralela das fácies e pela fina composição dos sedimentos que formam as rochas (sedimentos siltosos: siltito; sedimentos argilosos: folhelho). Com a ausência de fluxos, os sedimentos mais finos se acumulam no leito, formando os depósitos sedimentares. A presença de fácies de siltito indica, no entanto, que este ambiente apresentava esporadicamente fluxos de baixíssima competência, que impediam a deposição de argila, mas permitiam a deposição de silte, de granulação mais grossa. A coloração acinzentada dos folhelhos, assim como a presença de fósseis, sugere que a matéria orgânica se acumulava no leito deste ambiente deposicional; presume-se, portanto, que a região próxima ao leito era anóxica, e que a falta de oxigênio impedia a proliferação de microorganismos capazes de degradar a matéria orgânica.

Ponto 3 – km 164

Descartado por impossibilidade de visualizar o afloramento.

Ponto 4 – km 166

Neste ponto observamos uma camada inferior, de coloração avermelhada, e uma outra camada de coloração branca. Essas camadas possuem estratificações plano-paralelas e plano-cruzados, indicando um fluxo de corrente unidirecional, sendo difícil definir o sentido da mesma.

A parte branca da formação é constituída de uma única fácies: arenito branco. A parte inferior é composta por várias fácies: arenito fino, arenito argiloso com interações de evaporitos, silitico-argiloso com folhelho e camadas de restos de concha e outros sedimentos biogênicos; havendo gretas de contração em algumas das fácies. As duas unidades aqui descritas mostram que as unidades litoestratigráficas são Teresina e Pirambóia respectivamente.

Todos esses tipos de sedimentos, no que se refere à parte inferior essa unidade, indicam que no passado havia fluxo de água temporário e este depositava ali os sedimentos que carregava e em certos trechos a água ficava presa, decantando argila até que essa possa secasse formando as gretas de contração. Além do mais, possivelmente ela era rica em sais por formar evaporitos.

Ponto 5 – km 170,5

Neste ponto, observa-se a presença de três fácies (a numeração corresponde à indicação na Figura 3.5):

  1. Arenito com laminação cruzada
  2. Arenito com laminação plano-paralela
  3. Arenito com laminação plano-paralela deformada

[Fig. 6]
Figura 3.5: visão geral do afloramento do ponto 5.

Os arenitos apresentam coloração avermelhada intercalada com branca e não se pode concluir se a coloração avermelhada é causada pelo intemperismo (pós deposicional) ou se esta é a cor original dos sedimentos.

Pela análise das laminações, pode-se supor que o local foi um campo de dunas, sendo que a laminação cruzada representa as dunas e a laminação plano-paralela representa o espaço entre dunas. A laminação plano-paralela deformada pode ter sido causada por alguma perturbação ocorrida logo após a deposição dos sedimentos, antes que estes estivessem consolidados.

Este ponto encontra-se na unidade litoestratigráfica Pirambóia.

Ponto 6 – km 174,6

Neste ponto observamos um folhelho com laminação plano-paralela. As características são bastante similares às do ponto anterior, com a diferença de que neste há a presença de hidrocarbonetos que se acumularam nos poros do arenito.

[Fig. 7]
Figura 3.6: folhelho da formação Pirambóia.

Ponto 7 – km 187

Este ponto está localizado na base do Segundo Planalto do estado de São Paulo (o qual é formado por rochas ígneas e sedimentares), e representa a transição de duas formações diferentes: formação Botucatu e formação Serra Geral.

A primeira apresenta uma fácies, que é formada por arenito de coloração avermelhada (esta cor é devida a uma cobertura de rochas metamórficas de origem vulcânica sobre o arenito), granulação de fina a média e estratificações cruzadas de médio e grande porte (o que sugere deposição por um sistema eólico).

A segunda formação apresenta duas fácies: uma de rochas vulcânicas de cor cinza escuro a negra, originadas por derrames basálticos; a outra é formada por arenito de coloração avermelhada, com estratificações tangenciais e granulação de fina a média, que intercalam com as rochas.

4. Reflexões e conclusões

Verificamos que nos pontos 1, 2 e 4 encontramos fácies típicas de ambientes aquáticos, enquanto que nos pontos 5, 6 e 7, temos fácies de ambientes continentais. Podemos dizer também que a profundidade do ambiente aquático diminuiu entre os pontos 2 e 4, pois o ponto 2 apresenta fácies de fundo oceânico, enquanto que o ponto 4 trás fácies de águas mais rasas. Nas fácies continentais, observamos que todas representavam o resultado da atuação de sistemas eólicos.

A explicação para estes fatos está associada à separação da África da América do Sul no Cretáceo. As fácies de ambientes aquáticos formaram-se enquanto a região estava submersa, no início da separação; enquanto que as demais fácies formaram-se num campo de dunas em um soerguimento da região.

Nota-se também que houve um grande derrame basáltico no ponto 7, que preservou as estruturas que foram observadas lá. E neste ponto observamos a formação Serra Geral, que foi formada no fim da separação dos continentes.

5. Referências bibliográficas

[1] PETRI, Setembrino. Geologia do Brasil – (fanerozóico). São Paulo: Edusp, 1983.

[2] SAWAKUCHI, A. O. et al. Roteiro de Aula de Campo I. 2007.

[3] RODRIGUES, M. Ficha de descrição de testemunhos. Instituto oceanográfico, 2007.

[4] WIKIPÉDIA. Desenvolvido pela Wikimedia Foundation. Apresenta conteúdo enciclopédico. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Folhelho&oldid=1968800>. Acesso em: 30 abril 2007.

[5] HANDPRINT. The Geological Evolution of the Earth. Disponível em: <http://www.handprint.com/PS/GEO/geoevo.html>. Acesso em 2 maio 2007.